Brasil é o reino da impunidade, diz jornal 'Le Monde'
Ao escrever sobre os processos da justiça brasileira que "acabam em pizza", jornalista afirma que "Temer já está esquentando a sua pizza quatro queijos"
Por Redação RBA
Segundo o Le Monde, Temer 'parece estar se protegendo de uma possível acusação' da Lava Jato (Foto: Arquivo/ABR)
São Paulo – A edição da última terça-feira (28) do jornal francês Le Monde chamou a atenção para o cenário político brasileiro com o título "Brasil, o reinado da impunidade". Segundo a matéria da repórter Claire Gatinois, o presidente Michel Temer, ao ver a operação Lava Jato mais próxima, "parece estar tentado se proteger de uma possível acusação".
O texto também diz que a tática não está passando despercebida e, por mais que Temer tente dizer que o governo não vai proteger ninguém, as ações dele vão no sentido contrário. "Muitíssimo impopular, Temer não para de dar sinais ambíguos", analisa a repórter.
Ao falar sobre o tamanho da impunidade que "reina no Brasil", Claire explica aos leitores franceses a existência da famosa expressão de que os processos na Justiça 'terminam em pizza'. "Se formos ouvir os mais cínicos, tudo leva a crer que Temer já estaria esquentando a sua pizza quatro queijos", afirma a repórter.
Uma das ações de Temer contestadas pelo jornal é a escolha de Alexandre de Moraes para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Claire explica que o ex-ministro da Justiça é conhecido por sua simpatia pelo presidente, o que "suscita questões sobre sua nomeação", pois será o revisor do processo da Lava Jato.
Além disso, o Le Monde lembra que Moraes defendia a tortura e apoiou o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o que "não melhora sua imagem".
A correspondente comenta país se questiona sobre o peso de foro privilegiado. "Um privilégio que se transformou em uma ferramenta muito cômoda para desacelerar ou até mesmo enterrar algumas investigações", escreve.
Fonte: RBA
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Não só o mundo percebe que o Brasil é o país da impunidade, mas também a própria opinião pública brasileira. Recentemente uma decisão liminar do ministro Marco Aurélio do STF soltou o ex-goleiro Bruno, assassino da atriz pornô Elisa Samujo. O objetivo da soltura parece claro. Consiste ele em revolver no STF a discussão acerca da possibilidade de execução da pena após a condenação em segunda instância.
O Supremo, há bastante tempo, vem sendo alvo de críticas e, nesse caso particular, elas afloram com virulência na mídia alternativa e nas redes sociais. Já há uma movimentação no sentido de se repensar a forma de nomeação de membros dos órgãos de cúpula do Poder Judiciário, pois eles parecem não entender que a sociedade mudou e que eles nada mais são do que uma extensão dela, apesar de faltar à sua composição o nutriente do voto popular.
A propósito, por ocasião do descumprimento da liminar que determinava o afastamento de Renan Calheiros da Presidência do Senado, o ministro Marco Aurélio advertiu a seus pares que se fosse coonestado o descumprimento da ordem por ele expedida, como acabou acontecendo, o povo iria pra cima do Tribunal. Dito e feito, não deu outra. Agora, com a decisão de libertar o ex-goleiro Bruno, embora condenado em duas instâncias, certamente o ministro não notou que o povo iria pra cima dele, como, aliás, está a ocorrer, porque não é o personalismo do juiz que conta quando se trata de questões caras à sociedade, mas a percepção de estar afrontando seus anseios avassaladores, afinal é dela que o homem público, malgrado não tenha sido eleito, extrai a legitimidade necessária ao exercício de suas funções. continuar lendo