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19 de Abril de 2024

Temer tenta driblar pressão popular, mas perde base no Congresso

Para deputados, ao anunciar mudanças na PEC da Previdência, governo tenta evitar perda vertiginosa de apoio. Enquanto isso, Renan Calheiros rompe pensando em 2018 e nos votos de Lula

Publicado por Cleide Azevedo
há 7 anos

Eduardo Maretti, de RBA

Temer tenta driblar presso popular mas perde base no Congresso

As cores verde e amarelo já aparecem na manifestação de 15 de março em São Paulo, contra Michel Temer (Foto: Alexandre Maretti)

São Paulo – O recuo do governo de Michel Temer em alguns pontos da reforma da Previdência demonstra que o presidente da República já sofre os efeitos das manifestações populares e dos cálculos que deputados e senadores já fazem para as eleições de 2018. Os ataques do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), às reformas governistas e ao próprio Temer indicam que o ocupante do Palácio do Planalto corre grande risco de ser abandonado no meio do caminho, pelo menos na reforma que seria a grande “bandeira” de seu governo.

“Esses recuos se dão em função de pressão popular e da completa impossibilidade de esse texto (da Proposta de Emenda à Constituição-PEC 287) ser absorvido. Não existe negociação com essa reforma”, diz a líder do PCdoB na Câmara, Alice Portugal (BA).

Na opinião deputado Enio Verri (PT-PR), ao contrário do que diz Temer, o anúncio das mudanças é a primeira grande vitória dos movimentos sociais e dos partidos de oposição no Congresso Nacional. O presidente afirmou que a alteração no texto não pode ser considerada um recuo, mas "uma questão de obediência ao que o Congresso Nacional sugere".

Para Verri, com as manifestações de 8, 15 e 31 de março, somadas às últimas votações na Câmara, o quadro vai ficando mas claro. “A cada iniciativa que toma, Temer perde mais base social e ao mesmo tempo perde base de apoio na Câmara.” No dia 29 de março, o governo foi derrotado na votação da PEC 395, que instituía a cobrança de mensalidades em universidades públicas. O texto precisava de 308 votos para ser aprovado, mas obteve 304. Nesta quinta (6), estava prevista votação do projeto da renegociação da dívida dos estados, mas, sem acordo e com quórum baixo, a votação foi adiada.

O líder do PT, Carlos Zarattini (SP), diz que Temer “mexeu em aspectos secundários” da PEC 287, e que o recuo, antes mesmo da “primeira batalha”, na comissão especial da Reforma da Previdência, foi a primeira vitória do movimento social e dos partidos de oposição. “Ainda que a gente não saiba exatamente o que vão propor.” O petista lembra que os “pilares” da PEC 287 (os 65 anos de idade, o mínimo de 25 anos de contribuição e os 49 anos de contribuição para receber benefício integral) estão intocados.

“As mobilizações provocaram uma série de distúrbios internos na base desse governo sem representatividade, sem voto e sem compromisso com os direitos sociais. Nesse sentido, a base iniciou um processo de rebeldia. A gota d’água é a pesquisa que mostra 241 deputados contra a reforma da Previdência como ela está”, lembra Alice Portugal. “Com a continuidade da pressão, quem sabe a gente derrote de vez o mais cruel documento que já apreciamos no Congresso Nacional em relação a direitos previdenciários dos trabalhadores brasileiros”, diz.

Segundo levantamento publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo de quarta-feira (5), a PEC 287 seria hoje rejeitada por 241 deputados, mesmo amenizada.

O governo anunciou que mudará cinco pontos da PEC: a aposentadoria de trabalhadores rurais, os benefícios de prestação continuada (BPC), as pensões, a aposentadoria de professores e policiais e as regras de transição para o novo regime previdenciário. Mas não detalhou as mudanças.

“Não é suficiente”, diz o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Ele também cita a questão da idade no texto da reforma como um ponto fundamental que não foi mudado. Embora o governo esteja prometendo mexer nas regras de transição, “no tempo de contribuição ainda não se falou”. “Com isso tudo, fica a desconfiança por parte do cidadão. Não vejo muito alento para se imaginar que essas alterações anunciadas são suficientes. A dificuldade continua”, acrescenta Delgado.

Para Enio Verri, ao anunciar os pontos de mudança, o governo usa a estratégia de atender a setores mais organizados da sociedade, como professores e policiais, setor organizado da agricultura, em especial a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares). A ideia do governo, avalia, é usar esses setores que têm grande capacidade de pressão e mobilização para desmobilizá-los e diminuir a pressão social.

Mas, segundo Verri, a tentativa de Temer fracassará. Na terça feira (4), em uma reunião com representantes da CUT, CTB, Contag, Intersindical e Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) já se sabia que Temer retiraria alguns pontos ou tentaria negociar separadamente para desmobilizar. “Fechamos que não importa o que ele ofereça a um setor ou outro, mantemos de pé a greve geral dia 28 de abril e a posição de votar radicalmente contra a reforma de Previdência e trabalhista.”

Renan Calheiros

Para os deputados ouvidos pela RBA, o afastamento de Renan Calheiros do governo é uma decisão calculada e típica da “velha raposa” de Alagoas. “Renan não é burro. Tem uma visão estratégica de longo prazo e uma capacidade de sobrevivência política gigantesca. Está fazendo o que sempre fez: lentamente vai se afastando daquele que está em baixa e aproximando-se do que está crescendo, que é Lula”, diz Enio Verri.

Para Zarattini, Renan “está refletindo” a opinião da população, principalmente a do Nordeste, onde o crescimento de Lula é muito grande. “Ele está acompanhando e seguindo o eleitorado dele, que está completamente contrário ao governo Temer e a favor da volta do Lula.”

Na opinião de Júlio Delgado, o rompimento é um gesto claro de quem tem mais capacidade política. “Lógico que Renan está olhando a eleição de Alagoas, que é um reduto petista, e onde o PT se fortaleceu muito com os equívocos do governo Temer. Acho que o afastamento não tem volta.”

Alice lembra que Renan é pai do governador de Alagoas, Renan Filho, que o senador pretende levar de volta ao Palácio do Governo em Maceió. Com a pressão popular, Renan não demonstra hesitação. “Ele se inclina de maneira bastante rápida em direção ao ex-presidente Lula.”

Fonte: RBA

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Alagoas é reduto petista?

Se dependesse de Alagoas José Serra teria ganho a eleição, pois foi o único Estado onde ele ganhou.

Alagoas nunca elegeu petista pra prefeito da capital ou governador.

Nenhum vereador de Maceió é petista.
http://www.camarademaceio.al.gov.br/index.php/vereadores/listar

CORREÇÃO: Apenas um deputado federal ... isso porque é reduto.

Fui alertado sobre a composição da ALE de Alagoas ... não há petistas ... segue o link:

http://www.al.al.leg.br/processo-legislativo/parlamentares

O fato de Dilma ter sido bem votada se deve muito mais ao fato de ser um dos Estados que mais depende de Bolsa Família do que de preferência pelo PT, ou seja, o voto comprado as custas da miséria com a esmola, já que emprego que é bom nada.

Fazem pesquisas compradas e negam os fatos históricos ... petistas são uma piada pronta. continuar lendo

Eles ganhão tão bem que nem precisa dizer porque são eleitos e pra quem eles efetivamente trabalham. continuar lendo

Realmente, José Neto, a popularidade do Presidente Michel Temer está em baixa. Não creio, porém, seja o fenômeno resultado das mobilizações populares, mas sim em razão das próprias contradições com que se defronta o sistema político. Veja, por exemplo, o fato de Temer ser obrigado a manter na liderança do governo no Senado um sujeito como Renan Calheiros. Quem tenha tal personagem como líder está condenado à autodestruição, porque Renan hoje não pensa em outra coisa a não ser na sua sobrevivência. Tudo mais está ele disposto a mandar para o brejo.

Outro exemplo é o fato de Michel Temer se ver na contingência de se cercar do corruptos para composição de seu staff, porque gente honesta está em falta no meio político. Parece brincadeira a manutenção de Eliseu Padilha na chefia da Casa Civil e de Moreira Franco na Secretaria-Geral da Presidência da República depois de tudo que foi divulgado sobre eles.

Hoje, a população confia mais nas delações premiadas do que numa possível absolvição de políticos pelo Poder Judiciário e isto se justifica porque os Tribunais Superiores andam emitindo sinais pouco firmes de que querem mesmo ajudar no colapso do sistema corrupto, já que abre as portas da cadeia para quem roubou milhões dos cofres públicos.

Parece que, em todas as manifestações que vemos, há um recado claro do povo: votará em quem tiver compromisso com o combate à corrupção no país. Para os juristas, o recado que fica é o de que eleitor não precisa observar o princípio da presunção de inocência de político na hora de votar. continuar lendo

Grande Ricardo, Se vc fizer um breve pesquisa de todos os políticos envolvidos com corrupção, verás que todos eles tiveram no passado, o mesmo modus operandi e jamais foram punidos.Collor,,Lula Sarney, Roseana Sarney,Tasso Jeressati,Jaime Lenner,(Banestado) Renan, Aécio, Jucá, Serra, Eliseu, Eunício, Geddel, Eduardo, Valdir Raupp, Moreira Franco, Maia,, e tantos outros que se fossem condenados antes, nossa política seria outra.Quem está no legislativo são os piores bandidos da república e com as mãos sedutoras da justiça, fica claro que o crime compensa e continuará compensando devido as quantidade de recursos intermináveis para á bandidagem corrupta.Acredito que não conseguiremos avançar no combate á corrupção por meios legais e sim por intervenção militar com generais estadistas e patriotas.Se esperar o STF, TSE, PGR,...A bandidagem agradece. continuar lendo

Mesmo porque José Neto, caímos na velha questão do legislador que legisla em causa própria (veja o pacto entre PMDB, PSDB e PT pra passar a lista fechada).

Por sua vez os ministros das duas principais Cortes do país são indicações políticas, assim como os chefes das principais empresas públicas, autarquias, agências reguladoras, etc., além dos Ministérios.

Ou seja, é um sistema de corrupção fechado, que cria leis e as põe em prática para resguardar os corruptos, especialmente, é claro, que está no topo da pirâmide.

Por vias legais, sinceramente, também duvido que isso possa ser resolvido, afinal eles mudam a legislação a seu bel prazer.

É um ciclo vicioso. continuar lendo